O que você encontrará por aqui?

A facilidade de comunicação do Facebook, a concisão do Twitter, a antiguidade do Orkut, a tecnologia do Foursquare e as propostas específicas de alguns blogs que criei, acabaram por me tornar um cara mais disperso, fragmentado, por vezes raso e muitas vezes, prático (preguiçoso, na verdade).

Talvez, neste blog, eu consiga ir além.

Pelo menos, é o que pretendo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A felicidade do presente



Desconstrução tem sido mais do que uma palavra nova no repertório, tem sido uma ação recorrente nos últimos tempos. Nos meus últimos tempos. Entre aprendizados pulsantes e voadoras constantes tenho deixado para trás muitas crenças, formatos, teorias e afins. Confesso que esse movimento não tem sido fácil. São anos de acúmulo para deixar para trás.

Abundância inconsciente

Passei uma parte da minha vida sendo um planejador (e mais que planejador, era cumpridor dos prazos que estabelecia ou aceitava – custe o que custar)! Era bom nisso, fui reconhecido algumas vezes. Mas o que muitos não viam é que isso custava muito de minha presença fora deste esquema.

Ou seja, família, amigos e tudo mais que existisse fora do ambiente casa-trabalho. Quantas academias eu não frequentei. Quantas aulas de natação eu me ausentei. Quantas festas e happy hours deixei de comparecer. Quantas viagens ficaram para trás. Quanta vida deixei de viver. Tudo isso, para no final do mês, ter um contracheque de um dinheiro que não valorizava.

Dinheiro que muitas vezes gastava num final de semana de balada. Numa viagem de impulso. Ou principalmente comprando coisas que eu nem sentia necessidade de ter, mas que compensaria algo de alguma forma. Na minha cabeça, tinha que fazer valer o esforço. Sabe aquele lance de indulgência? Então, era mais ou menos isso.

Escassez escolhida

Numa outra parte de minha vida, vivi a margem do que esperam de uma carreira (ou pessoa) bem-sucedida (de acordo com o “bom senso”). Me rebelar contra o sistema foi divertido. Contrariar expectativas, também. Na realidade, sinto que a margem é minha zona de conforto. Não preciso estar lá e nem cá. Era como se eu estivesse em dois lugares sem estar. Via o rio de perto e o porto seguro estava logo ali, tudo dentro de meu campo de visão.

Era um lugar privilegiado. Podia transitar pela área que mais me oferecesse vantagem. Neste sentido, negligenciei (se quiser, você pode substituir esta palavra por escolhi – mas eu fico com a primeira) alguns aspectos de minha vida. O dinheiro foi um deles. Abri mão de seguir uma carreira certa para experimentar abraçar sonhos alheios.

Foi um choque de realidade brutal. Aprendi, cresci e avancei de tal forma que de outra maneira não seria igual. Tive a chance de evoluir em muitos âmbitos, experimentei ferramentas, transitei por grupos, resgatei, desapeguei, integrei, perdoei. Abandonei uma carga que nem tinha consciência que carregava.

Integrando polos

Ter ou não ter. Esta dualidade permeou estes dois momentos. Num eu tinha, no outro não. O senso (bom?) dizia que para ser, você precisava abrir mão do ter. Outros diziam que ter era coisa do capeta (juízes de valores alheios). Gente do bem aceitava o que vinha. E o que vinha não era abundante. Como questionar um esquema que tem dado certo a tanto tempo?

Que raios de homem eu era para colocar a prova um discurso (e uma prática) que vinha de séculos? Seja o modelo de economia vigente ou uma das religiões mais poderosas do planeta, o questionar não cabia. Era coisa de rebelde “sem causa” ou de um neo hippie filhinho de papai. Mas sempre fui muito normalzinho para assumir uma destas duas carapuças.

E segui a margem. Insatisfeito com o formato. Observando o desenrolar de algo que está por ser destruído por pequenos pulsos. Sentindo uma nova vibração ressoando aqui e ali. Escutando vozes num discurso dissonante e disruptivo. Movimentos aparentemente desconexos ganhando força. Áreas distantes entre si, compartilhando experiências e buscando um entendimento integrando os vários pontos de vistas. Verdades absolutas sendo destituídas de seus pedestais.


Não sei onde isso vai dar em termos de resultados. Parte desta desconstrução está intimamente ligada a esta necessidade. A outra parte, ao projeto de futuro. Eu não poderia estar louco e nem sonhando. “Se não agora, quando”? Pra mim, só na felicidade do presente. E para você?

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O peso do sacrifício


Ouvi a frase do título hoje durante uma reunião que tive e onde falamos de várias questões. Questões profundas, questões que estão começando a impactar em vários campos e em diversas áreas do conhecimento. Cada um falando o seu dialeto, mas alertando para questões “comuns”, aparentemente desconexas. (#SQN)

Mas, na real, nem quero falar sobre elas. Só dar uma googlada aí que podemos encontrar diversos textos, teses e teorias afins. Muitas mesmo. E de gente de peso que estudou, analisou, pensou e sentiu muito do que colocam no papel.

Eu tenho uma certa facilidade para escrever. Mas sou muito crítico também. Julgo direto e reto. Sem dó e nem piedade. Quantos textos bacanas devo ter matado neste processo? Muitos. Quantos textos que nem dei cabo e que morreram antes de nascer? Muitos também.

E esse é o meu desafio, sentir mais e julgar menos. E isso chega a afetar a minha comunicação mais espontânea que é a fala. Falo pouco, escuto mais. Transmito a sensação de paz. Mas um turbilhão de coisas povoam a minha mente e o meu corpo todo. Às vezes, tem tanta coisa passando que fica difícil falar (em algumas outras, tenho preguiça mesmo)!

E isso me impede, muitas vezes, de me comunicar de forma mais genuína. Acho que mais do que molde social, este processo é muito meu. Porque julgo. E julgo muito. Sou até mais condescendente com o outro do que sou comigo mesmo. E na baixa vibração amplio minha capacidade de julgar, potencializando alvos.

Se você me conhece pessoalmente, certamente em algum momento, você foi um destes alvos. E esse processo é tão forte que quando me dou conta dele, já fiz. Lutei muito contra isso. E continuo lutando em algumas instâncias. Mas hoje consigo conviver melhor com esta questão porque, de alguma forma e em alguns níveis, aceitei como minha e me responsabilizei por ela.

Característica acolhida não grita

E aceitar é tão libertador. E nada utópico. Quando a aceitação acontece, parece que viramos uma chave. E o clique pode ter sido rápido, mas nem sempre o tempo de maturação do processo foi curto. Pode ter levado dias, meses, anos e foi o tempo que precisou levar.

Mas no meio disso tudo, aprendi (e aprendo cada dia mais) que a dor e/ou sacrifício no processo é meio que uma escolha nossa. Muitas vezes, ele pode ser doloroso fisicamente, inclusive. Pode causar angústia, um nó na garganta que não desata. Emoção bloqueada, represada. Mente turva e fechada. Corpo encalacrado e tenso.

E quando dizem que o que resiste, persiste, estão falando disso. Guardamos muito lixo, recusamos a sentir emoções “que não são socialmente aceitáveis”, julgamos e tentamos nos colocar num pedestal que nos deixa imunes àquilo que faz parte de nossa mais pura essência. A nossa humanidade.

Cada vez mais percebo parentes, amigos e conhecidos padecendo de doenças que são sinais de desconexão total com esta essência, com o que é natural e cíclico. O quanto nós nos sacrificamos para manter uma máscara e o quanto nos recusamos a ultrapassar esta barreira. A conexão exige um compromisso com nossa própria evolução.

Mas, na maior parte do tempo, estamos olhando para fora... para o outro. Não no sentido de nos espelharmos nele e levarmos isso como lição. Mas com a prepotência de acharmos que ele precisa da gente mais do que precisamos dele. Criando uma relação de dependência de via única (na nossa cabeça, claro)! E o quanto de energia gastamos nestas relações? Mas isso meio que garante um lugar seguro na percepção de alguém, não é mesmo?

É. Mas de onde vem esta necessidade? A sua eu não sei. Posso intuir, mas nem quero garantir. A minha vem da necessidade de pertencimento e/ou aceitação. E esta necessidade perdeu potência quando aprendi que tudo está interligado, que não existe fora e nem dentro. E que eu não preciso fazer nada para pertencer.

Eu pertenço sendo

Este aprendizado, inclusive, aliviou minhas dores nas costas. Sacar a minha pequenez e ao mesmo tempo a minha grandiosidade (Assim, tudo junto e misturado) no sistema foi muito acalentador. Curou dores reais e intangíveis. No fim, os tombos foram importantes, os passos foram necessários para chegar onde chegamos.

Tiveram o seu espaço e o seu lugar neste processo. Não se pode ignorar este caminhar. Por isso, honro e agradeço. Estou aqui porque passei por eles. Estou aqui por conta das inúmeras experiências boas e/ ou ruins. Estou aqui porque carreguei um pouco de cada pessoa que cruzou o meu caminho.

Sou porque fui com você

Essa semana foi um microcosmo interessante disso tudo. Misto de sensações. Briga interna que refletiu nas várias relações que desenvolvi e na minha relação com as várias atividades que precisei fazer. O bacana de tudo isso é que algumas pessoas estão tão presentes que parece que as escutei em alguns momentos.

E este escutar me deu a oportunidade de mudar a atitude que vinha tendo frente as situações que passei. De novo, o clique foi rápido, mas o processo não. Foi doloroso, como tinha que ser. Mas não senti tanto o peso do sacrifício. Tão forte como chegou, foi embora. Com tudo que se tinha direito, correria, estresse, refação, conflitos e discussões (internas).

Mas tudo isso foi tão necessário para que três papos grandiosos pudessem me proporcionar um pequeno salto mais. O primeiro aconteceu numa “floricultura”, um outro numa padaria e o último na imensa rede de possibilidades que é a Internet.

Gratidão a todas as peças que compuseram esta teia fantástica de uma semana intensa.


(Não sei mais se sou ou não da turma do “gratidão” – embora algumas pessoas possam teimar que eu sempre pertenci a ela).

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sobre a raiva, a tristeza e outros sentimentos (básicos)


O rancor nosso de cada dia.
Muitas vezes, eu me esqueço de coisas que aprendi. Mas não é um esquecer voluntário, aquele do desapego. É um esquecer sem querer mesmo. Totalmente sem querer. Problemas da idade? Acho que não, acredito que tenha sido assim desde sempre.

E quando falo em aprender, não me refiro a ter que saber fórmulas de física ou descrever todos os elementos da tabela periódica (meus pesadelos da época de escola). Tenho uma memória estranha. Um cheiro pode despertar lembranças. Uma música, toda uma história.

Às vezes, me pego confundindo anos e épocas. Colocando um fato na frente do outro na minha linha do tempo, quando na verdade, o inverso é que é o certo. Acho que sinto mais do que guardo. E não sei se isso é bom ou ruim.

Pode ser que isso explique a minha incredulidade (não sei se essa seria a palavra mais adequada) quando ouço uma pessoa falar ou demonstrar raiva de algo que aconteceu mês passado ou anos atrás. Para mim, isso não faz sentido.

Antes que pensem, eu não sou um Buda. Eu sinto raiva. Antes eu a guardava e tentava não demonstrar e descontava de alguma forma. Hoje eu a sinto e demonstro de uma forma reativa e violenta que não me agrada. Minha meta é melhor lidar com ela (sem nega-la).

De qualquer forma, eu a sinto, mas sinto na hora e depois passa. Momentos como estes costumam não fazer parte de minhas memórias recentes ou não. Na verdade, eu ainda não entendi este meu mecanismo de defesa.

E assim, eu não consigo sentir raiva de um ex-chefe que queria controlar o meu hábito de navegação na Internet (quando já não era mais meu chefe). Nem de um grande amigo que fora convidado para ser meu padrinho de casamento e não apareceu no dia.

E a tristeza, a que veio?
Outro dia, postei um artigo de jornal em uma rede social que foi compartilhado muitas vezes (não fui o primeiro). Ele pontuava uma diferença cultural entre nações. Senti no comentário de algumas pessoas um certo ranço ao mencionar a palavra orgulho.

Posso estar totalmente errado (e gostaria de estar), mas senti que este orgulho estava disfarçando uma variação deste mesmo sentimento. Ele estava travestido de soberba. E esta dita soberba me entristeceu um pouco.

Senti que ela criava uma lacuna entre estas pessoas e as outras. Colocando-as em lados opostos. E de certa forma, eximindo a responsabilidade das primeiras na transformação de um coletivo onde os dois lados fazem parte.

E que contrapunha a essência do artigo que falava de humildade. E analisando bem, este fato me entristeceu muito mais por me identificar com a soberba. Pois, ainda que com certa dificuldade (memória, lembra?), resgatei momentos onde fiz uso deste sentimento.

E ao fazer uso deste sentimento, me distanciei de algumas pessoas. Deixando de me colocar no lugar delas. E quando isso aconteceu, fui extremamente intolerante. Pois deixando de vê-las como elas são, passei a exigir delas o que exijo de mim.

Eu sei, preciso ser mais suave comigo mesmo. Em algumas áreas tenho obtido mais sucesso do que em outras. Mas a natureza é cíclica e temos que respeitar os limites que ela impõe. Respeitando o ritmo e seguindo devagar e em frente, sempre.

Me entristece olhar para os meus erros do passado e me entristece mais ao saber que eles foram responsáveis por rompimentos que poderiam ser evitados. Perdi em alguns casos e ganhei em outros.  De todos os modos, tolerância é a palavra da vez.

Que medo, meu!
Recentemente fiz uma cirurgia que na minha concepção, foi um processo simples. Ainda que exigisse muitos cuidados, passei por uma intervenção rápida e praticamente indolor. Mas falo isso agora, na hora “h” não foi bem assim.

Senti medo, muito medo. Logo depois de receber a anestesia, tive um ímpeto de tirar tudo aquilo que me prendia e sair correndo. E não era o medo do corte, da cirurgia ou de algo que estivesse presente naquele momento.

Era o medo de, por qualquer motivo, morrer. Morrer por erro, morrer por alergia à anestesia. Eu sou rebelde e por consequência, meu corpo também. Vai que toda a química que correu por minhas veias resolvesse falhar.

O medo era tamanho que, dias antes da cirurgia, comecei a resgatar todos os logins  e senhas de tudo que tenho por aí, banco, cartões, contas, perfis das diversas redes sociais e por aí vai. Tive que refazer algumas que esqueci (memória ou falta dela, de novo - rs).

Confesso que tenho medo de algumas coisas, de algumas perdas, mas nunca – que eu me lembre – tinha sido tomado por ele desta forma, com esta intensidade. Ele sempre veio de uma forma branda, na verdade, em momentos muitos específicos.

Em momentos de tensão extrema, temia não dar conta. Tinha medo de falhar, de errar, de não entregar algo que as pessoas me confiaram fazer. Isso me endureceu muito. Me tornei muito intransigente comigo mesmo e com as pessoas que estavam no meu entorno.

Não sei se conseguirei pedir perdão a todas as pessoas com as quais falhei de alguma maneira. E nem sei se elas me perdoarão, de fato. Mas praticarei a gratidão, enaltecendo o aprendizado. Começarei me perdoando por tudo isso. E isso é só o começo.

A alegria de ser quem sou.
Em muitos momentos, me senti distante da maioria das pessoas. Tipo um peixe fora         d´água. Total fora de órbita. Não tinha grupo, não me identificava com nada. Não me adequava a nada. Por defesa, criei um personagem.

O cara legal. Que com o passar do tempo, transformou-se no bonzinho, no complacente, no ombro-amigo. Naquele que fazia quase tudo para ser aceito. Mas a persona não resiste e a máscara cai.

Conflitos emergem. Quem, de verdade, eu sou? Qual é a minha essência? Até onde devo me mostrar? E para quem? Muitas perguntas e as respostas que não vinham quando eu queria. Tive que comer muito arroz e feijão para encontrar todas elas.

E elas não estão totalmente respondidas (ainda bem). Hoje não tenho a necessidade de ter todas elas. E tudo bem assim. Mesmo porque, outras perguntas deverão surgir por aí e com o tempo.

Caminhei, cai, levantei. Encontrei pessoas. Me vi nelas. Aprendi. Errei. Assumi estes erros. Perdoei. Segui em frente. Sorri, chorei, cai de novo. Levantei novamente. Encontrei minha tribo e tive aquela deliciosa sensação de pertencimento.

Encontrei-me em outras pessoas. Olhei nos olhos do outro e tive a chance de sentir que olhava para os meus próprios olhos. Reconheci o meu pior e o meu melhor em muita gente. Era como se eu olhasse num espelho e enxergasse a minha alma, como ela é.

E nesta caminhada, tive a alegria de conhecer pessoas fantásticas, compartilhar histórias incríveis, crescer junto, realmente. Transformar padrões e quebrar paradigmas. É uma experiência que não consigo ignorar (ou desver). Ainda que tente, às vezes.

O que seria do afeto se o outro não existisse?
Nestes últimos dias, por conta de agendas truncadas e de alguns “nãos”, consegui reservar um tempo para cuidar e arrumar algumas coisas minhas. E este tempo incluiu olhar para dentro e fazer uma revisão. Tipo faxina mesmo.

Eu tive a oportunidade de contemplar o silêncio. E todo o barulho também. Discussões, ironias, brigas, ofensas. Troca de farpas. Violência gratuita. De todos os lados. Erro de todos os lados. Intolerância de todos os lados. Todo mundo defendendo o seu ponto de vista.

Lados opostos. Quem sou eu se ignoro você? Eu não te escuto, mas te mando tomar ki-suco. Eu não te conheço, mas me sinto no direito de lhe mandar tomar ki-suco. E é ki-suco jorrando para todos os lados. Direita ou esquerda.

E o coletivo se perde quando existem os outros e eu. Eu defendo a verdade. Você, não. Eu estou certo. Você, não. Eu, tudo e você, nada. Estamos no tempo em que só se conjuga verbos na primeira pessoa do singular. Sou eu e os outros, mas eles não sabem conjugar.

Temos noção de rede, falamos de networking, mas não estamos conseguindo olhar para o outro, prestar atenção no que ele traz, na sua história. Estamos perdendo a capacidade de escutar, de compreender e de nos reconhecer no outro.

Estamos perdendo a essência de rede em sua forma mais primitiva. Estamos perdendo a capacidade de nos conectarmos uns com os outros e de sermos um só. De verdade. E não só no futebol. Enquanto os lados prevalecerem, pouca coisa mudará.

Ainda bem que tenho encontrado gente que tem me ensinado muito sobre muitas coisas. Gente que não tem a obrigação de pensar exatamente como eu. Mas possui algumas ideias em comum. E isso basta para começarmos a operar grandes mudanças.


E você, o que sente?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Entre escolhas e consequências


Eu tenho um mundo dentro de mim. São muitas palavras, sentimentos, sensações, insights. Minha voz não dá conta de tudo isso. Estas tormentas viajam por minha mente, coração e alma e transcendem a minha capacidade de me comunicar com o mundo.

Às vezes, é toró, em outras, tsunamis. E a intensidade não sou eu quem determino. Tudo depende do encontro do que tenho dentro e o que vem de fora. E ainda que seja tempestade, ela quase nunca acontece em um copo d´água.

Normalmente é assim e já me acostumei com estes turbilhões. Respiro fundo, silencio a mente, rebobino a fita e tento resgatar cada momento que me passou. E o que está no fundo, sobe à superfície.

São três filmes que passam ao mesmo tempo. Cada um em uma tela. O passado, o presente e o futuro. Em lampejos de causas e consequências. Escolhas e responsabilidades. Ainda que estejam em telas diferentes, estas três histórias se entrelaçam.

É o círculo. É a roda. Chegou a hora de partir. De deixar o meu porto seguro. De mais uma vez navegar e cair no mundo. Eu quero senti-lo de um lugar diferente. Mudar a forma de vê-lo para remodelar visões e preconceitos. Eu tenho sede de novos ares.

Despedidas são tristes. Desapegar dá medo. Mas triste mesmo é ficar no mesmo lugar, não querendo ficar no mesmo lugar. E medo eu tenho de chegar lá no fim, repleto de meios caminhos, de sonhos encaixotados, de sabores amargos.

Mas o mais legal desta viagem, é que eu não estou sozinho. Parto com minha melhor companheira de viagem, minha melhor amiga, minha confidente, amante e mulher para a vida toda. Vamos respirar outros ares e formar a nossa família. 

Mas antes de partir, não podemos deixar de agradecer a esta cidade caótica e a todos que os encontros que tivemos nela e fora dela. Somos o que somos por conta dos encontros que tivemos. Gratidão eterna, pois foi em São Paulo que tudo começou.


Estamos indo, buscando uma vida diferente, mais simples. Com um ar mais puro, com mais tempo e mais qualidade. Tchau Sampa! Chega mais Little London. Estamos chegando! E esperamos nossas visitas.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Humanidade fragmentada


Não sou mulher, mas também tenho fases. Fases que de certa forma, acompanham os ciclos da Natureza. Tento sentir a chegada de cada uma delas, respeitando-as em sua mais pura essência. Embora estas fases não estejam alinhadas totalmente com a Natureza, elas normalmente, encontram sincronia com o que figura no externo.

Semear, colher, estocar e hibernar. Tais como as estações do ano, cada um dos ciclos possui uma atividade mandatória. Muitas vezes, não existe um tempo padrão para cada um deles. E muitas vezes, o ciclo vigente não é aquele que esperamos que fosse. Ledo engano achar que temos o domínio do tempo.

Aliás, o tempo. Nunca se sofreu tanto por ele. Ou pela falta dele. Na ânsia de dominá-lo, esquecemos a sua real função. Perdemos o foco e ficamos como loucos correndo para não sei onde, na busca de não sei o quê. Correr atrás me parece algo controverso. Nos colocam - na real, nos impõe - muitas coisas que temos aceitado sem questionar.

E aceitamos tanta coisa que acabamos por ignorar quem realmente somos. E a medida que nos tornamos reféns do tempo ou do sistema, nos distanciamos de nossa essência. Ligamos o piloto automático e vamos fazendo. Fazendo esquecemos de ser. Fazemos perdendo a conexão, o sentido que nos levou a fazer. Desconexão total de propósitos.

Quantas vezes não nos pegamos tendo um lampejo de consciência e questionando a razão de estarmos em determinado lugar, fazendo algo que não tem relação alguma com aquilo que somos? Mal temos tempo de encontrar a resposta e algo ou alguém nos faz voltar à vida de gado. A eterna insatisfação é um sintoma claro desta fragmentação.

Quantas máscaras temos que vestir no decorrer de nossas vidas? O quão custoso é vestir todas elas. A máscara do herói? A do que nunca se cansa? A do que está sempre bem? A do profissional exemplar? A do que está sempre com um sorriso estampado no rosto? A do resiliente? Os estereótipos que nos impõe são perfeitos demais para o humano que somos.

Nos desenham destinos. Decidem quais caminhos seguiremos. Definem como devemos agir.  E quando nos damos conta, estamos reproduzindo um discurso que não é o nosso. Vivendo uma vida que não planejamos. Fazendo e fazendo e fazendo sem questionar. O tempo e os ciclos estão desalinhados. Esquecemos do básico.

O nosso tic e tac não está no mesmo ritmo do relógio da Natureza. Estamos esquecendo do primordial. Estamos matando nossa essência humana. Estamos olhando para partes e ignorando o inteiro. Estamos nos contentando com pedaços, quando podíamos ser inteiros. Baixamos a guarda sem ao menos tentar.

E o que te faz inteiro(a)? Em que momento você sente que você é realmente você?



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Uma vida de fases e escolhas

Acabamos de voltar do cinema. Filme despretensioso. Despretensioso porque não exigiu de nós nenhum esforço. Não foi preciso pensar para entender. Em realidade, trata-se de um blockbuster. Não fomos ao cinema com a intenção de ver esse filme, mas era ele que melhor se encaixava em termos de horário e de escolhas. Queríamos antes do filme, jantar. E assim o fizemos.

Mas, de verdade, não vim falar do filme. Não tenho o hábito de tecer críticas cinematográficas, ainda que às vezes, eu as faça. Ainda que este post não seja sobre ele. Ele estará presente no desenrolar deste meu texto. Responsabilidade é o tema deste post. Mas não vim falar da sua responsabilidade, meu/ minha caro(a) leitor(a). Vim falar da minha...

"Grandes poderes exigem grandes responsabilidades" - esta frase ainda que advinda de uma das versões do filme de hoje, teve um grande impacto quando eu a escutei pela primeira vez. Ela, simplesmente, descreveu a fase que vivia naquele momento. E que não é muito diferente da fase que hoje vivo. Fase de responsabilidades, que de certa forma, por muito tempo, deixei vagar pelo poço do silêncio.

Mudei em muitas questões. Mas alguns sentimentos e convicções permanecem. Um deles se refere a minha inadequação a este mundo. Essa sensação existe desde que eu me conheço por gente e por conta dela, tracei parte de meu caminho em uma rota paralela. Diferente da tradicional e talvez, paralela não seja a palavra mais adequada, talvez e só talvez, a palavra que melhor a defina seja alternativa.

Nesta rota alternativa corri atrás de muitos sonhos. Lutei por muitos ideais. Caminhei sozinho algumas vezes, mas estava na maioria das vezes, estava muito bem acompanhado. Aprendi muito, cresci mais do que ainda posso imaginar. Colhi frutos e venci. E tenho a plena certeza, que plantei muita coisa boa que em breve, frutificará.

Mas o tempo exige desapego. Exige também, entrega. E mais do que tudo, exige mudanças. Eu sinto o tempo implacável. E cada vez mais, temos menos tempo para realizar escolhas. Cada vez mais, temos que estar preparados para as mudanças, mesmo que não estejamos preparados para tal.

Neste sentido, sinto um alívio. Pois ainda que tenha negado por muito tempo esta fase de responsabilidades, sinto que em minha rota alternativa, fui preparado para estar onde hoje estou. E não, não estou abandonando esta rota alternativa. E não, não estou me desapegando àquilo que acredito ser o melhor. Estou indo de encontro a tudo que acredito, de peito aberto e com o coração e a mente, finalmente caminhando juntos.

E para você, qual é o seu caminho?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Maiúscula América

“A pessoa que está agora reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminhos de nossa Maiúscula América me transformou mais do que eu me dei conta.(...) A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, do homem que eu era..."
Ernesto Che Guevara em "De moto pela América do Sul - Diário de Viagem"


A viagem mais longa que fiz em uma motocicleta não deve ter ultrapassado 40 quilômetros de distância. O resumo desta aventura pode ser dito em uma palavra: congelante. Mas não é sobre ela que pretendo falar, mesmo porque este, não é o meu meio de transporte preferido. Curto muito uma estrada, mas prefiro estar nela como um espectador. Desta forma consigo aguçar minha visão e enxergar muito além das retas e curvas.


Antes mesmo de começar a ler este livro do companheiro Che - companheiro, não por compartilhar de sua ideologia política, mas muito mais por compartilhar de sua forma de ver as terras que percorreu - descobri que fiz um trajeto parecido com o feito por ele. Com as devidas adaptações de roteiro e interesses. E por relatos, percebi que pouca coisa mudou em quase 60 anos. Para o bem e para o mal.


Respirei o ar com outras poeiras, mas passei por algumas estradas que ele percorreu. Não sei dizer se o frio era o mesmo, mas acompanhei mudanças bruscas de temperatura, 30 graus em um lugar e em poucas horas, enfrentei um frio de - 5 graus. Para um paulistano nato, esta temperatura costuma fazer até a alma tremer. A altitude também foi algo novo para mim. Faltou ar quando cheguei a mais de 4.000 metros do mar.


E mesmo em contato com diferentes culturas nativas e alocadas, percebi algo em comum com todas elas, algo que transcendia o espanhol e seus sotaques distintos. E mesmo não sendo um nativo no idioma e nestas culturas, tive a oportunidade de ter uma experiência única, uma estranha sensação de pertencimento. Algo que de certa forma, não consigo explicar e encontrar uma lógica. Visto que sou um descendente de orientais.


Não sei se foi o período de vida em que me encontro ou a vivência que tive em um país que está fora da rota de Guevara, mas experimentei esta mesma sensação em todas as viagens que fiz pela América Latina. Sensação esta que não experimentei em nenhuma das viagens que fiz pelo Brasil. A lição que tiro disso tudo, é que os nossos "hermanos" (bolivianos, argentinos, peruanos e afins) são muito mais maduros com a questão da miscigenação do que nós, brasileiros, que clamamos que nossa terra é a terra das misturas.


É óbvio que fui abordado por pessoas falando inglês, imaginando que eu fosse um gringo japonês que cheira a dólar. Nas cidades mais turísticas, o pensamento era o mesmo: "You are gringo! Assim deve pagar mais caro por qualquer coisa que eu lhe ofereça!" Mas aprendi a quebrar este estigma: "Quedáte tranquilo! Puede hablar español que compreendo todo! Soy brasuca!" E ainda que não fosse um castellano exemplar, conseguia "quebrar as pernas dos mais espertos".


Mas fora do esquema "sou turista", a recepção era outra. Não importava de onde vinha, eu fui tratado com um local - dadas às devidas proporções. Pude sentir e respirar história, conheci os tilcaras, os maimarás, os quéchuas, os quilmes, os tiwanakus e algumas outras etnias que não mal consigo escrever e nem pronunciar. Visitei ruínas onde pude imaginar, sem o auxílio de guias, como era o modo de vida de alguns deles.


E esta experiência contribuiu e muito para esta sensação estranha que tenho a respeito de nossa maiúscula América. Em breve partirei para mais uma viagem, que talvez não tenha o mesmo mote, mas seguramente não voltarei o mesmo que eu era. Deixo aqui o relato do que fui para comparar com o que me tornarei. Certamente viajarei com o olhar atento, não buscando nada, mas aberto ao que esta experiência me trará.


Aprenderei, experimentarei e ainda que sofra pequenas alterações nos âmbitos físico - espero "pegar uma cor" - e financeiro, em outras instâncias, a mudança virá da forma que os caminhos me permitirem.